Um mundo melhor

Um mundo melhor

Em 1978 eu estudava Psicologia na Universidade Concórdia em Montreal, Canadá. Eu tinha vinte e dois anos de idade e sentia um certo prazer de ser universitário. Com todos os problemas enfrentados, eu seguia adiante: ter um diploma, um bom emprego, prestígio.

Havia dificuldades: pouco dinheiro, desânimo, doenças, contrariedades, frustrações. O importante era persistir, atravessar o deserto como o Moisés da Bíblia. Viver no Canadá não era fácil: esperar pelo metrô, correr atrás dos ônibus. Vida de pobre é terrível em qualquer lugar do mundo.

Eu sonhava com um mundo melhor: queria gritar e correr, esquecer toda aquela indiferença e desprezo ao meu redor. Naquele dia eu tinha mostrado um poema para meu professor de Inglês, um homem soturno, de óculos e de fala mansa. Ele leu o poema e disse:

-Muito bom. De quem é?

-É meu. Sou poeta.

-Não pode ser. Nós é que fazemos Literatura. Os latino-americanos, como é o teu caso, só devem jogar futebol e dançar merengue.

Ele me deu o poema e seguiu seu caminho no corredor da universidade. Saí da escola triste e decidi comprar um jornal. O jornal me olhou sangrento e cansado, com suas manchetes repetidas sobre violência e sensacionalismo. Deprimente.

Eu me sentia um verdadeiro homem do século XX: uma ilha cheia de individualismo e solidão. Então caminhei pelo centro da cidade.

Entrei no edifício, tomei o elevador, abri a porta do apartamento, sentei-me sobre o sofá e comecei a ler um livro de contos de Alice Munro (que anos mais tarde ganharia um Prêmio Nobel). Então pensei: como seria bom se todas as nações do mundo fossem desenvolvidas, se todos os povos escrevessem versos e fizessem da Literatura uma arma contra a mecanização de homens que só estudam para tirar boas notas, que só trabalham para receber altos salários.

Nada mais que isso. Como seria bom um mundo diferente, um mundo melhor.

 

Carnaíba (PE): 29 de setembro de 2001