Qual é a sua idade?

Sempre ouvi aquele pessoal mais velho dizer a velha frase no dia do seu aniversário: saúde viu, que é a única coisa que realmente interessa. Eu sempre discordei! Claro que existem outras coisas melhores do que saúde, eu pensava. Tolinha. Tão ingênua e arrogante.

 

Depois dos 35 as coisas ficam diferentes. Não tem nada a ver com estar velha, mas com ter passado por mais coisas na vida, só isso. Não acredito nessa coisa que envelhecer é sinônimo de ficar mal, doente e debilitado, muito pelo contrário. O mundo está cheio de gente com mais de 80, 90, 100 anos e ótima. Vide Oscar Niemayer, com 102, fazendo tudo o que muitos garotos não tem mais coragem de fazer.

 

A velhice mudou. A idade adulta, a adolescência, tudo foi junto. Como dizer “crise de meia idade” para uma pessoa de 40 anos se, aos 40, nem é mais meia idade. A meia idade foi parar nos 50, o que antes era visto como uma prévia da terceira idade. Meu pai tem 64. Ele entra na fila de idosos do banco e todo mundo olha para ele torto. Já pediram até a identidade, porque ele simplesmente não tem nada a ver com a imagem de uma pessoa de 60 e poucos anos que ainda existe no nosso inconsciente coletivo.

 

Para mim, concordo com Luis Gasparetto, quando ele diz que fica velho quem não permite mudar. Mudar tudo, principalmente o seu pensamento. Outro dia o Willian Bonner disse no Twitter que estava escutando uma música eletrônica, e foi bombardeado porque todos achavam que ele só gostava de Bach e Wagner depois de “certa idade”. Mas ele é que está certo, porque ele não vai envelhecer mal. Vejam aquelas pessoas de 100 e poucos anos espalhadas pelo mundo. Já pensou nas coisas que elas já viram, já ouviram? Todas as pessoas que fizeram parte da sua juventude estão mortas. Já perderam até filhos, netos, tudo mais mas continuam firmes. Continuam aprendendo com a vida e com as experiências.

 

Não estou falando só de comprar um IPad e uma calça cenoura, estou falando de deixar o tempo passar. De olhar para os jovens e suas manias esquisitas e achar normal, até aprender alguma coisa com isso. Só envelhecemos quando começamos com aquele discusto babaca de “no meu tempo não era assim não”. Quando você diz isso está assinando um atestado de “sou velha e não vou mudar a minha cabeça”. Velho é só o que não muda, o que não é usado. São como as coisas, que ficam lá encostadas e ficam velhas e quebradas. Velho é quem se abandona e se torna rígido em suas convicções de que só o passado prestava (porque você acha que as articulações de pessoas mais velhas estão sempre gastas?). Velha é a cabeça.

 

Ser jovem para sempre é possível pelo simples fato de não existir fim. Não existe fim em nada, nem na morte, que te reaproveita como espírito. Recicla. O mundo é uma grande máquina de reciclagem, a natureza é assim. As empresas são assim com as pessoas e estão aprendendo a ser com seus insumos também. A “onda verde” não é mera coincidência planetária, porque estamos sim aprendendo a viver mais, a reciclar o que não serve, a reaproveitar de uma maneira nova.

 

A criança interior (divina) é o arquétipo da criatividade. E ela não pode morrer porque é ela que nos faz ver o novo. Mesmo que seja de novo. Que mantém a nossa curiosidade na vida e nas pessoas. Que acha tudo interessante e pensa: legal, dá pra eu usar isso daqui pra frente. E ela não pergunta sua idade porque ela é viva. Ela é a sua vida dentro de você e estará para sempre aí dentro, se você lhe der a voz.

 

Então, nada de ladainha de “tô velhinha, quero um cobertor”. A vida é looooooonga, se concentre nisso. Começe uma coisa nova todos os dias, faça descobertas interessante sobre o mundo ou sobre você mesmo. Principalmente sobre você mesmo. Trabalhe até o dia da sua morte, mesmo que ela só aconteça aos 115 anos. Trabalhar te mantém vivo, saudável, porque trabalho, ao contrário do que todo mundo pensa não é peso, responsabilidade, dor, sofrimento. É sim, pura diversão! Mas isso é assunto para outro artigo, não é mesmo?