Aos vinte anos de idade eu morava no Canadá e muita gente me invejava por isso; porque era considerado o melhor país do mundo. Mas eu invejava os invejosos, pois me sentia só em uma nação diferente da minha. Parecia aquele poema de Castro Alves intitulado “Ahasveros e o Gênio”.
Era verão em Montreal naquele ano de 1975. Eu estudava no Dawson College e fazia um curso de férias em Atwater. Eu sentia prazer em ler, escrever e participar das aulas. Mas os professores me olhavam zangados e um deles até me disse:
-Desiste, rapaz! Os latino americanos nasceram para jogar futebol e dançar merengue. Estudar é coisa para gente desenvolvida como nós.
Mas eu era teimoso e persistia. Levantava cedo, tomava o metrô e seguia para a escola.
Era o verão canadense. O calor era demais! As noites eram cálidas e festivas. As luzes da cidade, os casais de namorados, os carros japoneses, os bares cheios de gente tomando chope. Havia turistas por todos os lados, música também. Mas eu estudava.
Sentia-me frustrado cada vez que uma carta vinda do Brasil trazia uma mensagem assim: “tu és um camarada sortudo, porque vives em um país desenvolvido em meio à gente civilizada. O povo canadense deve ser muito compreensivo, não?” Eu rasgava aquelas cartas e jogava-as no lixo.
Mas uma carta guardei. Uma amiga de Mato Grosso havia escrito, dentre outras coisas, uma afirmação assim: o sol existe. Então ganhei coragem e prossegui.
Se o sol existe, a esperança também existe e todos têm direito à existência. Então vamos viver. O mundo pertence aos vivos, pois o sol existe.
Carnaíba (PE), 28 de setembro de 2001