Estava eu no elevador, outro dia, com minha incrível mania de observar tudo e todos ao meu redor. Lá dentro estavam mais duas moças, conversando freneticamente sobre o que eu pensei ser um caso amoroso de uma delas. Ela estava com uma cara inconformada, parecia que tinha chorado a tarde toda, e repetia um “eu não acredito” com uma ênfase incrível. Observei, como de praxe. Saí do elevador com as duas e paramos na fila para pagar o estacionamento. A conversa continuou. Uma delas disse “Sabe, quando ele me disse isso, é como se o chão debaixo dos meus pés tivesse sumido. Como ele pôde fazer isso comigo? Como ele pôde mentir tanto?”. Não sei sobre o que especificamente elas falavam, possivelmente de algum tipo de traição. E traição nem sempre é só sair com outra pessoa, as maiores são sempre as mentiras que se contam para sustentar o que se esconde.
Decepção. Nossa, que palavra difícil de ouvir! Sempre que eu escuto isso me lembra recepção, festa, casamento. Sei lá, isso eu resolvo com a minha terapeuta, mas o fato é que todo mundo, todo mundo mesmo, sabe o que é uma decepção. Ela pode ser amorosa, pode ser sexual, pode ser financeira ou de trabalho. Pode ser aquela vaga na empresa pela qual você está lutando há mais de um ano e que vai pra outra pessoa. Pode ser aquele carro que você jura que poderá comprar e, quando vê, não dá nem pra um modelo pela metade. E sim, ela acontece demais no âmbito amoroso. O plano sentimental das nossas vidas é sempre aquele em que colocamos mais expectativas. Crescemos com a ideia de que, um dia, vamos conhecer um moço ou moça legal, vamos nos apaixonar, nos casaremos e seremos felizes com nossos filhinhos e um cachorro que não seja muito barulhento. E, na vida real, essa linda história de amor tem um milhão de desvios.
Não é que não exista gente feliz e nem a felicidade, claro que existe, e muito. Mas mesmo nas relações mais felizes, ainda assim nos decepcionamos. Isso porque as pessoas são só o que elas são, e não as nossas fantasias sobre elas. E eu entendo bem disso, porque já passei por essa situação algumas vezes.
Um dia você está lá, feliz e namorando um cara que parece ser feito pra você. No outro dia, ele some, esquece do que lhe disse, que vira uma outra pessoa, sem nem lhe avisar. Quando avisa, é pra contar que o estrago está feito e que, ah que pena, você não tem nada mais pra fazer. Ou então, você se casa, cega a todos os defeitos do outro, e descobre no dia a dia que não, não vai jantar num restaurante caro uma vez por semana. Decepção.
A decepção só acontece porque criamos expectativas. Tentamos enquadrar o outro naquilo que nós acreditamos ser a verdade. Esperamos que o outro aja como nós agiríamos se estivéssemos no lugar dele. E, de novo, isso nunca acontece.
A maneira como você agiria, para você, é a certa. E a maneira como o outro age, automaticamente, a errada. E quem mesmo que disse isso? Ninguém! Isso é só parte das suas fantasias. Talvez fantasiando que aqueles “pequenos defeitos” que você enxergava eram coisas que mudariam com o tempo. Ou que só você tinha um poder mágico que ver que, no fundo, a pessoa é ótima e nunca agirá mal com você. Mas as pessoas agem mal. As pessoas fazem o mal para si e para as outras pessoas. E quando você se pega naquela situação de ver claramente que você acreditou no errado aí é que doi demais.
A dor da decepção, num primeiro momento, é atroz. Ela dói no mais fundo de nós, ela desmonta as nossas fantasias em fração de segundos, deixando um imenso vazio aparecer. É como um meteoro que cai num deserto. Uma tempestade. Você acorda no outro dia e quer fechar os olhos de novo, porque não quer estar consciente de nada. Dói muito. Depois de passar essa fase, e ela sempre passa, vem os porquês (a fase da moça do elevador). Porque a pessoa fez isso, ou porque aconteceu isso? Será que eu fiz algo de errado? Como eu não vi, como não percebi, como não reagi? Essa fase é dolorida ainda, principalmente porque é quase impossível você obter tais respostas. Algumas pessoas podem ficar presas nessa fase por anos ou décadas. Culpar a si e ao outro parece completamente inevitável.
A terceira e derradeira fase é a superação. É quando aquela pessoa ou aquela situação perde a importância, de tão mexida, de tão perguntada. Você simplesmente desiste. E isso é ótimo porque só depois disso é que você poderá continuar vivendo a sua vida. A situação ou a pessoa se tornam só uma coisa que você conta por aí, algo de um passado distante e que você deseja esquecer. É quando simplesmente aquilo não te diz mais nada. Só aí é que você estará curada da decepção.
Depois disso é recomeçar e se arriscar a se decepcionar de novo. Sim, isso pode acontecer, mas a chance é menor quando você já passou por algumas. Você passa a não mais se entregar ou a ser mais esperta com tudo ao ser redor. O único perigo disso é você criar um medo enorme de se arriscar de novo e estagnar. Se isso não acontecer, você está pronta para outra. O que precisamos entender é que sim, existem pessoas diferentes de nós. Não são melhores, nem piores, mas diferentes. Agem diferente. Podem não ter coragem de encarar o que é a verdade, podem achar que aquilo é algo muito diferente mas não espere, como disse uma vez uma amiga, que todos serão tão legais quanto você pensa e que serão tão legais como você é. O seu legal serve para você. E quando começar a não criar expectativas, vai atrair pessoas diferentes e situações que vão facilitar e não complicar tudo. Olhe de novo para aquela situação, para aquela pessoa que lhe causou isso. Veja como estão as coisas depois de tanto tempo e pense: se tudo tivesse sido como você idealizava será que você estaria feliz? Isso é impossível de saber e metade da resposta,o sim, é, de novo, uma fantasia. Viver o agora é deixar que as decepções do passado fiquem lá, no lugar delas. No passado. É não se deixar contaminar por coisas que já foram, certas ou erradas. É poder olhar para o seu hoje e saber que você fez o que pôde naquela situação e hoje, não tem mais jeito. Só resta respirar fundo e parar de acreditar no que não faça absoluto sentido pra você.