Elizabeth Schulz
Psicóloga
Tarefas Domésticas
Tantas promessas e sonhos na mudança para um outro país.
O imigrante é como um pioneiro, que vem “descobrir” novas terras e explorar novas oportunidades. Sonhar é muito bom e como dizia Carl Sandburg, “Nada acontece antes de um sonho” (“Nothing happens unless first a dream”). É o ideal que nos motiva e nos guia. No entanto, algumas expectativas podem bater de frente com a realidade do dia a dia.
Dentro da minha prática, recebo casais que entram em conflitos sérios, durante a fase de adaptação ao Canadá. E o motivo é simples: Na valise da mudança trazemos velhos hábitos que não se encaixam nesta nova realidade. Um exemplo muito comum entre nós, é a tentativa de aplicar a maneira brasileira na manutenção da nossa casa. Primeiramente, aqui todos da família, mas todos mesmo, devem participar da divisão de tarefas. Incluindo obviamente os homens mas também as crianças nesse “todos”. Me lembro bem de quando uma professora de francês que tive, contou durante uma aula (há quase 25 anos) como aqui se valoriza a independência e a autonomia das crianças. Elas logo cedo são encorajadas a cuidarem de si, de sua higiene, de seus brinquedos e desde cedo participam de pequenas tarefas domésticas. Exemplos: Guardar os seus brinquedos, fazer a sua caminha, colocar a roupa suja no cesto, levar o seu pratinho sujo para a pia e ajudar a arrumar a mesa do jantar. Os maiores ajudam a limpar a casa e os adolescentes, podem levar o lixo para fora, limpar a neve da frente da casa, cuidar da lavagem da sua roupa e até participam da preparação das refeições. A casa e a rotina diária é uma responsabilidade de todos, respeitando-se as possibilidades e as capacidades de cada um.
Muitos recém-chegados também se exigem manter a casa como esta era mantida no Brasil quando tinham empregados ou faxineiras. Tentam tirar a poeira, passar o aspirador, lavar os banheiros com a mesma frequência de antes. Tentam cozinhar diariamente ao invés de prepararem a comida em quantidades maiores e congelarem as refeições, aliviando assim a correria ao chegarem em casa depois de um longo dia. Isso tudo, sem falar na proritária dedicação natural aos filhos, aos estudos e ao trabalho. Desta maneira, o cansaço se acumula rapidamente e em consequência, a paciência e o carinho com o outro diminuem de forma significativa, causando muito conflitos na relação a dois. Verdadeiramente, uma mudança de hábitos é muito mais difícil do que parece à primeira vista. O meu conselho? Mais vale uma pilha de roupa suja acumulando no cesto, do que um casal brigando no quarto. Pessoas e sentimentos são mais importantes do que uma casa brilhando.
Mantenha a nossa cultura viva, falando o português em casa, ouvindo e promovendo a nossa música, organizando atividades culturais com as crianças… Mas nas coisas práticas, estejam abertos para aprenderem novos métodos e conceitos com as pessoas que vivem aqui há mais tempo. Pesquisem à sua volta; “Como dividir as tarefas domésticas? Como evitar o “fast-food” sem se matar na cozinha? Quem pode ficar com o bebê para que possamos pegar àquele cineminha?” Existem muitas maneiras e truques para tornarmos essa rotina mais fácil e até prazeirosa. Podem acreditar 🙂
Leia outro artigo da psicóloga Elizabeth: O que é felicidade?
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