Planetarium

Planetarium

As melhores recordações de minha infância estão relacionadas à observação do céu. Em noites cálidas e estreladas na Cidade do Rio de Janeiro, nós observávamos as estrelas – minha irmã mais velha viu até um disco voador. Alguém apontava as constelações mais conhecidas: o Cruzeiro do Sul, as Três Marias (o Cinturão de Orion), o Escorpião… Eu me deliciava com o prazer simples de ver figuras e formas na imensidão do céu.

Quando nos mudamos para Brasília, o ônibus quebrou na estrada em pleno cerrado do noroeste de Minas e durante a noite, enquanto aguardávamos por socorro naquele longíquo ano de 1967, eu admirava o céu repleto de estrelas, com todas aquelas constelações só vistas no Hemisfério Sul. Inesquecível.

Os anos passaram. No Canadá, nos anos em que estive lá, de 1973 a 1983, eu tinha o costume de olhar para o céu. No verão de 1982, na varanda de um apartamento em Longueuil (na Grande Montreal), eu ensinava algumas crianças canadenses a admirar o céu estrelado. Eu apontava para as constelações da Grande Ursa, Ursa Menor, a Estrela Polar e dizia: “no Brasil o céu é mais bonito”. Um garoto canadense me disse em francês: “tu falas assim porque sentes saudades de teu país”. Eu sorri para ele: “talvez, talvez. Se Deus permitir, eu retornarei para lá”.

Eu retornei no ano seguinte, como aquele cavaleiro solitário dos filmes “western”. Eu era movido pelos meus sonhos – um poeta sonhador. Sempre olho para o céu estrelado nestas noites tropicais. Uma pena que as pessoas não tenham tempo para apreciar as estrelas.