O que é felicidade?

O que é felicidade?

Elizabeth Schulz

Psicóloga

A terapia de Aceitação e Compromisso (TAC)

Existe uma convicção de que para sermos mais felizes, devemos controlar as nossas emoções e os nossos pensamentos negativos.

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Exemplo: “Sorria e a vida te Sorrirá de Volta”

 

Esta ideia, se propagou pela mídia nos últimos anos e ao contrário do que se acredita, tem trazido muito sofrimento.

 

Mas o que é a felicidade?

Russ Harris em seu bestseller “Liberte-se Evitando as Armadilhas da Procura da Felicidade” 1, nos diz que todos somos guiados por crenças sobre a felicidade. Infelizmente estas, em sua grande maioria, são enganosas!

Harris é médico e terapeuta que trabalha com a Terapia de Aceitação e Compromisso (TAC ou ACT em inglês). Em seu livro, ele fala sobre alguns dessas crenças ou mitos:

 A felicidade é um estado natural para todos os seres humanos.

Esse é um forte mito da cultura ocidental. No entanto, percebemos uma realidade bem oposta à nossa volta! O mundo moderno traz desafios que há 100 anos atrás seriam mesmo inimagináveis! Somos bombardeados com notícias e imagens como nunca antes e consequentemente, sofremos grande impacto com essas mudanças. Dados estatísticos de 2011, indicam que o uso de antidepressivos e de medicação para a ansiedade aumentou em quase 400% entre 1988 e 2008, somente nos Estados Unidos. 2 Um em 10 americanos já foi diagnosticado com depressão e calcula-se que este número cresce à 20 % ao ano. Em dados estatísticos de 2012 estimou-se que 121 milhões de pessoas no mundo “sofre de algum tipo de depressão”. 3

smile-feliz—>Querem nos fazer crer que: “Este é o nosso estado natural!”

 

 

 

 

– Nós devemos ser capazes de controlar o que sentimos e pensamos.

Ora, a mente humana sofreu mais de cem mil anos de evolução para chegar onde chegou e funcionar como funciona! Ela é capaz de fazer planos, criar coisas, resolver problemas, aprender com a experiência e etc… Isso nos torna seres superiores e capazes de modificar o mundo à nossa volta. Mas por causa desta grande capacidade, concluímos erroneamente que devemos controlar os sentimentos e pensamentos. Mas quando não conseguimos, experimentamos uma sensação de fracasso, como se houvesse algo de errado conosco ou em nossas vidas.

Se você não é feliz, há alguma coisa errada contigo!

Por acreditarmos que a felicidade é um estado natural e que podemos sempre controlar os pensamentos e as emoções, as sociedades ocidentais percebem o sofrimento mental como anormal, como uma fraqueza ou como um produto de uma mente defeituosa ou doente!

Mas se observarmos bem, tudo que vale a pena para nós, virá permeado por sentimentos bons e ruins. Então, se tentamos fugir dos sentimentos ruins, estaremos também nos afastando do que queremos e do que acreditamos, não é mesmo?

Tudo que julgamos ter mais significado em nossas vidas, como relacionamentos íntimos, família, amigos, trabalho e etc., nos trazem alegrias mas inevitavelmente também trarão tristezas e decepções. Fazem parte dos desafios da vida e do viver!

Veja a situação de alguém que vai se casar: Quantas expectativas e quanto prazer! Mas ao mesmo tempo, sabemos dos muitos estresses e frustrações que geralmente ocorrem durante os preparativos para uma festa. E somamos aqui, muitos outros momentos, como a chegada tão esperada de um filho, que traz tantas alegrias, mas mas também traz ansiedades e angústias antes, durante e depois do nascimento.

Steven Hayes, pesquisador, psicólogo e autor de 27 livros sobre A Terapia de Aceitação e Compromisso, afirma que “aceitar a sua dor é um passo para livrar-se do seu sofrimento” 4, e que “todas as artimanhas que criamos para escapar da aflição, nos desviam de nossos objetivos de vida. E é por eles que vale a pena viver.” 5

Se realmente desejamos uma vida comprometida com aquilo que acreditamos ser importante para nós, precisamos saber aceitar todas as experiências emocionais que ela oferece, mesmo que às vezes estas sejam desprazerosas.

Felizmente existem técnicas que podem nos auxiliar a lidar com esses sentimentos com mais aceitação e sem tanto temor e à fazermos escolhas coerentes com os nossos próprios valores de vida.

Em suma; a vida feliz acomoda uma gama enorme de emoções diferentes e muitas vezes contraditórias! Assim como no verão, há dias miseráveis e frios, as emoções, são também incontroláveis e imprevisíveis!

Leia outro artigo da psicóloga Elizabeth: Viver à Brasileira no Canadá

Para entrar em contato com Elizabeth Schulz, visite: http://www.guiabrasil.ca/servicos/elizabeth-schulz/

Site: www.elizabeth-schulz.com

Bibliografia

1. Russ Harris (2007-2008) The Happiness Trap-How to Stop Struggling and Start Living. Boston (MA), Trumpeter Books, pp 10-13

2. Peter Wehrwein, Contributor,Harvard Health, (2011) Astounding increase in antidepressant use by Americans, Harvard Health Blog, http://www.health.harvard.edu/blog/astounding-increase-in- antidepressant-use- by-americans- 201110203624

3. Depression Facts & Statistics 2012 Infographic, http://www.healthline.com/health/depression/statistics-infographic

4. New Harbinger's interview with Steve Hayes, with Steven Hayes on Get Out of Your Mind and Into Your Life, Published on Association for Contextual Behavioral Sciencehttps://contextualscience.org/new_harbingers_interview_with_steve_hayes

5. Não Fuja da Dor (2008) Transcrição da entrevista com Steven Hayes para revista Veja, https://contextualscience.org/entrevista_na_revista_veja_com_steven_hayes_bras