O imperador brasileiro

O imperador brasileiro

A viagem do Imperador Brasileiro de um oceano a outro e do Golfo do México ao Rio São Lourenço é um fato conhecido. Mas pouca gente sabe da viagem de Dom Pedro II ao Canadá.

A 04 de junho de 1876, Sua Majestade chegou ao Niágara por volta das 08 horas. Ele ficou impressionado pela magnífica vista. Mas comentou que em grandeza selvagem e volume d’água, a Cachoeira de Paulo Afonso (imortalizada em um poema de Castro Alves com o mesmo nome). A imperatriz também manifestou sua admiração e a comitiva aprovou o Niágara. Foram tiradas fotos de toda a comitiva imperial, mostrando ao longe as famosas quedas d’água.

Em seguida Suas Majestades, o imperador e a imperatriz e seu séquito, tomaram um trem para Hamilton, Toronto e Kingston, no Lago Ontário. A 05 de junho, às primeiras horas da tarde, o trem imperial entrou na Estação Hamilton. Foi uma grande festa. Pessoas se amontoavam para ver o Imperador da Família Bragança, descendente dos Capeto e de uma princesa de Bourbon. Uma criança até comentou: “ele parece um rico negociante aqui da cidade”. Até deram um título para ele: “o imperador sorridente”. Havia uma emoção geral na pequena cidade de Hamilton.

O imperador não tardou a perceber uma diferença entre os dois países: ao cruzar a fronteira dos Estados Unidos com o Canadá, contemplando a paisagem da janela do trem, ele achou as cidades canadenses mais limpas e verdejantes, parecidas com o interior da Inglaterra. Após uma parada de dez minutos, o trem deixou Hamilton e tomou o caminho de Toronto, onde chegou às 17 horas. O prefeito de Toronto e a alta sociedade local vieram receber o Imperador Brasileiro na estação.

Às cinco horas do dia 06 de junho, eles chegaram a Kingston, onde o Imperador decidiu fazer uma caminhada e conversar com a população local: pessoas modestas que àquela hora matinal caminhavam para o trabalho. Ao perceber que o Imperador estava ali, um deles exclamou: “é o Imperador do Brasil! Quanta honra! Nunca vou esquecer este dia!”

Às seis horas, Sua Majestade subiu a bordo do navio “Spartan”, que partiria para Montreal. Uma centena de pessoas se agrupou no cais para ver passar o Imperador e seu séquito. No momento da partida o Comandante Bailey foi informado da presença, no seu navio, dos passageiros imperiais. Imediatamente ele disse: “chamem o pessoal da limpeza! Quero este navio limpo e perfumado! Rápido!”

Começou a longa descida do Rio São Lourenço. Um tempo radioso e quente. As Mil Milhas surgiam com seus “bouquets” de verdura, seus chalés de recreio. Pouco depois de Brockville, tocou o sino para o almoço. Terminada a refeição, o navio atracou em Prescott. A viagem foi retomada e começou então os “saltos” dentro dos rápidos de Cedres e Lachine. À altura da aldeia “huronne” de Caghnawaga, duas mulheres de pele bronzeada, índias, acenavam para o barco.

Surgiu a Ponte Vitória, de vastas proporções, e a cidade vista do rio: Montreal. Chegaram. Às 19 horas o “Spartan” aproximou-se do cais; o Imperador e sua comitiva, de pé, viram a multidão vindo a seu encontro. A imperatriz, abatida por um resfriado, estava sentada em um canapé, no interior do navio.

Após apertar a mão ao comandante, felicitando-lhe pela boa viagem, Dom Pedro desembarcou e, com a Imperatriz, subiu em uma carruagem descoberta. Foram aclamados pela multidão. Dom Pedro fez saudações com seu chapéu. Os viajantes foram conduzidos ao St. Lawrence Hall, o hotel mais suntuoso da cidade.

O Imperador jantou rapidamente e foi para a Academia de Música assistir a uma peça de teatro. Toda a sociedade elegante de Montreal se fez presente.

Na manhã do dia seguinte, 07 de junho, o Imperador foi ao Grande Mercado Bonsecours. Eram apenas 07 horas. O soberano examinou as mercadorias e conversou com os camponeses e vendedores. Os açougueiros estavam estupefatos por verem um Imperador conversando com eles. Todos se deixaram impressionar pelo seu bom humor e vivacidade.

O imperador voltou ao hotel, para o seu pequeno almoço e continuou, em seguida, de carro, a visita da cidade: o Monumento a Nélson, a Capela de Bonsecours, os Jardins Viger e Surdos-Mudos da Rua Saint-Denis. Nesta instituição, fundada e dirigida pelas Irmãs da Providência, o Imperador conversou com as religiosas, interessou-se pela obra realizada por elas e constatou os benefícios feitos às alunas. No momento da despedida, ele assinou o Livro de Ouro da Congregação.

Ganhou o porto após um passeio pelas ruas de Sherbrooke e Sainte-Catherine e uma parada na “Christ Church Cathedral”. No seu caminho de volta, fez uma parada na Livraria Dawson para comprar alguns livros e guias de viagem.

Após o almoço em companhia da imperatriz, visitou o “McGill College” e sua biblioteca, os museus de História e Geologia. Suas majestades detiveram-se no Colégo de Montreal, um estabelecimento de Saint-Sulpice e no reservatório do Parque da Montanha.

A imperatriz D. Teresa Cristina, acompanhada pelo secretário particular do imperador, visitou a Igreja de Notre-Dame, onde foi recebida pelo Padre Martineau – que a conduziu ao altar-mor, onde genuflexórios estofados foram especialmente colocados em honra dos ilustres visitantes. Após uma curta cerimônia religiosa, o grupo reuniu-se ao imperador no hotel.

Por volta das 04 horas, partiram todos para a estação onde os esperavam vagões de luxo, postos a sua disposição para suas viagens pelo continente norte-americano. No cais, o povo canadense aclamava novamente o Imperador. Agitavam-se os chapéus e Dom Pedro agradecia com gestos de amizade.

O Sr. Russel Stevenson apresentou ao imperador as homenagens do governador geral. O precário estado de saúde da imperatriz obrigou o imperador a renunciar sua projetada viagem à Cidade de Quebec. Desejava ela chegar o mais breve possível à Europa.

O trem partiu para Lowell e Boston.

A recordação que Dom Pedro II deixou aos canadenses foi a de um imperador ao mesmo tempo humano, sorridente, afável, grande e simples. Esta sua viagem ao Canadá, em 1876, foi registrada nos jornais da época, tanto nas cidades de Toronto e Montreal, como no Brasil.

Taguatinga, 23 de junho de 2015

Foto:  livre de Jacques Saint-Pierre